Por Valéria e Marcel
Olha o tamanho dos meus braços!
É engraçado!
Olha o tamanho das minhas pernas!
Estranho, não é?
Por mais que eu corra
Ela não desgruda
Do meu pé
Me deixa sozinho no escuro,
Mas quando ascendo a luz ela logo aparece
Acho que ela ainda tem medo,
Sei lá o que acontece.
Faz tudo o que eu faço, usa até as mesmas roupas
Às vezes acho que é inveja,
Besteira
Sombra tem dessas coisas.
Dependendo da hora
Está a minha frente
No meio do dia
Quase abandona a gente
Quando o dia se vai
Se muda para o lado de trás
Faz tudo o que eu faço, usa as mesmas roupas
Às vezes acho é inveja
Certeza
Sombra tem dessas coisas
O sorriso que eu dei
Ela não conseguiu
Aqueles que eu vi partir
Ela com certeza não viu
Os beijos e abraços que tive para mim
Ela jamais sentiu
E quanto à lágrima de dor que eu derrubei
Tive a impressão de vê-la sorrindo
No exato momento em que olhei.
Quando apostamos corrida
Às vezes ganho eu
Às vezes ganha ela
Paro para descansar,
Ela me espera
Finjo que vou me levantar,
Ela se desespera
Quando um amor me deixou na solidão
Apelidei minha amiga
De senhora sem emoção,
Corpo sem feição,
Maria-vai-com-as-outras,
Paca, tatu, cotia não,
Chamei-a de tudo que me veio à cabeça
Vagabunda sem alma!
Veneno de escorpião
Não me peça calma!
Não me chame de irmão!
Que coisa mais triste
Saber que você existe
E não é capaz sequer
De adivinhar o que sente
O meu coração.
By Marcel (infelizmente)
Olha só! Está passando o carro que vende o resto!
Quem vai querer, quem vai querer?
Pode se aproximar, minha senhora.
Tem tudo o que a senhora precisa.
Coxa, sobre-coxa, braço, perna,
Pescoço e cabeça dura.
Está passando o carro em frente a sua casa, minha senhora!
Tem pra todo mundo, minha senhora.
Pé, joelho, cotovelo, tornozelo,
Nariz, boca, bochecha, queixo e olhos com lágrimas, minha senhora!
Pode se aproximar, pode se aproximar, minha senhora!
Espinha dorsal, coluna torta, costela, todo o esqueleto.
Empacotadinho, bem certinho, minha senhora.
Está passando o carro em frente a sua casa, minha senhora!
Aqui tem tudo o que a senhora precisa.
Tem rim, fígado, pulmão sem ar, pâncreas,
Baço, cérebro já vazio de idéias, minha senhora!
Bexiga, intestino delgado e grosso, embrulhadinho, minha senhora!
Tem tudo o que a senhora precisa!
Ingredientes perfeitos para lavagem, comida de cachorro, passarinho,
Adubo, mil e uma utilidades, minha senhora!
E o mais importante.
Já vem sem coração e alma, minha senhora!
Tudo prontinho e bem certinho pra você levar!
Quem vai querer, quem vai querer!
Está passando o carro que vende o resto!
By Marcel (infelizmente)
Claro que, se você tem guardado em seus pensamentos lembranças tristes acontecidas em dias assim...”
Pare!
Deixa eu me explicar novamente, por favor.
E desde quando dias chuvosos significam tristeza?
Quando a água cai, lava tudo realmente.
Lava o chão, as árvores, os animais.
Lava os andarilhos, assenta a poeira e nos assenta o facho.
Lava o quintal, lava a varando e lava o meu carro.
Mas não somente lava, limpa e leva embora.
A água inunda, de verdade.
Em meu coração inundou, que até transborda.
Oh, chuva, refrescante, que conseguiu deixar verde o que era cinza!
Se chove em mim, chove em você também, é claro!
Mas é mister que saia e se molhe, senão não inundará.
Aqui comigo está transbordando, meu coração transborda e já derrama.
Posso derramar no seu coração se você permitir.
Divido tudo e ainda sobra! Igual fermento natural.
Dou um pouco e sempre consigo fazer mais.
Chorei junto com a chuva e a chuva chorou em cima de mim.
Não levou toda a tristeza embora, mas me trouxe lágrimas de alegria para meus olhos viciados.
E desde quando dia chuvoso significa tristeza?
Eu me esqueci.
E você?